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A crise econômica brasileira infinita

A história mostra que a crise que vivemos hoje tem muita relação com os eventos passados, principalmente quando considerados eventos externos às políticas-econômicas internas, como; a relação internacional de Brasil com Inglaterra, Estados Unidos e outros; a relação entre oferta e demanda dos principais produtos de exportação brasileiros no mercado global; o avanço da globalização e as mudanças tecnológicas que ocorreram no mundo; as questões religiosas (tanto portuguesas, quanto brasileiras) que se envolviam com a política e atrasavam (e ainda atrasam) o desenvolvimento desses países; entre outros motivos que fazem da economia brasileira ser considerada (felizmente ou infelizmente) uma das economias emergentes do segundo mundo.

Foi apresentado nesse mesmíssimo blog, a relação brasileira com outros países desde os tempos coloniais, assim como as trapalhadas do governo imperial português para com sua colônia. Com esse artigo, espera-se mostrar as principais medidas e os resultados alcançados de governo a governo, para verificar os pontos críticos das variadas crises econômicas e buscar aprender com esses fatos históricos. Começando pela economia da Primeira República que herdou do segundo período monárquico brasileiro péssimos índices de inflação e uma considerável dívida externa para serem resolvidas. Marcado por uma extravagância com gastos em guerras, uma mancha na amizade com a Inglaterra devido a questão Christie e a baixa no preço de produtos agrícolas no mercado internacional, como, entre outros, o cacau, o açúcar e o algodão, o Império de D. Pedro II teve fim com o golpe militar liderado por Marechal Deodoro da Fonseca, proclamando uma república, em 1889.

A missão de recuperar o país da crise fico a cargo do ministro da Fazenda de Ma. Deodoro, Rui Barbosa. O ministro visava restabelecer a economia através do plano popularmente chamado de Encilhamento, que nada mais era uma grande emissão de moedas, para acelerar a economia e incentivar a industrialização do país. Porém, o Estado não impôs limite para a impressão de cédulas e perdeu o controle das operações, o valor da moeda foi caindo a medida que mais moeda ia ingressando no mercado e a inflação começou a atingir valores piores do que já estavam. Com a insatisfação de vários setores da sociedade, o presidente renunciou ao cargo e o entregou ao seu vice, Floriano Peixoto.

A situação econômica não mudou durante os governos de Floriano, Prudente de Morais, Campo Sales e Rodrigues Alves, pelo contrário, só se agravaria no decorrer dos anos. O principal produto de exportação, o café, estava perdendo o espaço no cenário mundial para o de regiões da África e América onde os europeus obtinham maiores lucros, resultando num demasiado acumulo de sacas do produto. A proporção da situação só diminuiria no governo de Afonso Pena, aonde os grandes cafeicultores paulistas e mineiros se reuniram, em 1906, com o governo e conquistaram um acordo que faria o Estado comprar a produção de café excedente, assim os preços se regulariam e quem adquiriria a dívida seria o próprio país.

Com a crise americana de 1929, a economia recebeu a sua gota d'água. Foi no governo de Getúlio Vargas, logo a pós a deposição militar de Washington Luís e o fim da política oligárquica do café-com-leite, que o país começou a retomar o rumo da estabilização econômica. Depois das suas medidas sociais como a extensão do voto as mulheres e a CLT, Getúlio focou na organização econômica no seu governo ditatorial, em 1937, e impôs algumas medidas para controlas os preços de produtos agrícolas como, por exemplo; a queima do estoque de café da Primeira República e a proibição de plantação de novas mudas; o incentivo a plantação de frutas tropicais, óleos vegetais, algodão e cana-de-açúcar.

Ainda no seu governo, Vargas aumentou o imposto de importação e diminuiu o imposto sobre os produtos produzidos no Brasil, trazendo, assim, a indústria para produzir dentro do país. Além disso, ele fundou a Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica Nacional, para proteger recursos minerais e o mercado interno. Depois da sua renúncia em 1945, o Brasil ainda viveu alguns anos de estabilização, porém não duraram mais de dez anos, devido a alta dívida externa que havia se criado no governo JK e a inflação descontrolada nos outros governos da República Liberal. Os governos Dutra e o segundo de Getúlio Vargas, assim como o de João Gourlart foram de altos gastos com programas sociais e combate a desigualdade gritante que existira na época.

O Regime Militar toma o poder com a intenção de impor uma ordem sócio-econômica. As primeiras medidas econômicas, ainda no governo Castelo Branco, de combate a inflação favoreciam ao capital estrangeiro, limitavam a concessão de crédito e reduziam o salário dos trabalhadores. Essas medidas, somadas ao ritmo do mercado internacional que fluía rapidamente devido ao crescimento exponencial de China e EUA, fez a balança comercial brasileira, assim como de outros países inseridos nas transações entre esses dois países, alavancarem. As exportações eram superiores as importações e os preços haviam sido controlados pelo governo Costa e Silva.

Essa boa fase, chamada de o "milagre brasileiro", não vigora por muito tempo, logo o preço do petróleo perde valor de exportação e o  principal produto da exportação brasileira sofre uma queda nas vendas, gerando déficit na balança. Assim como, o alto volume de empréstimos em bancos internacionais, gera maiores dívidas e descontrole da inflação. Esses dois acontecimentos favorecem aos movimentos sociais contra o Regime Militar, que tinha a recuperação econômica como principal argumento para se manter no poder. O militarismo perde força política e é derrubado na Câmara, em 1985, pelo governo de José Sarney.

Nessa altura da história brasileira podemos contar por volta de 20 anos de estabilização econômica (sendo intervalos de 5-7 anos), aonde as demais classes da sociedade puderam ter algum proveito e participação na construção de capital. Em 1986, Sarney tentou salvar o país da crise através de vários planos, entre eles  o cruzado, que não obtiveram sucesso. O Plano Cruzado se consistia em transformar a moeda nacional da época, o cruzeiro (Cr$), em cruzado (Cz$), fazendo a conversão de Cr$1000/Cz$. Para estabelecer a inflação e o cruzado não se desvalorizar, ele congelou o salário, os preços de bens e serviços e a taxa de câmbio.

O problema do plano do governo Sarney foi que os produtos a prazos não tiveram o seu valor congelado, no primeiro mês, aqueles produtos comprados para pagamentos em 30, 60, 90 e até 120 dias, estavam com o preço super inflacionado. Os produtores e vendedores passaram a negociar os pagamentos a prazo pelo preço corrigido na tabela e os consumidores passaram a pagar o preço fixado no início do Plano, gerando uma grande disputa de preços, ou baixíssimos, ou altíssimos. Além disso, o governo não tinha uma ferramenta para controle dos gastos públicos e também perdeu uma grande fatia das reservas internacionais, por ter congelado a taxa de câmbio. Enquanto isso o consumidor representava uma demanda altíssima para a baixa oferta que não produzia devido a bagunça nos preços, elevando, assim, o preço de produtos básicos, como a carne e o leite.

O presidente ainda tentou estabilizar a economia com outros planos, mas fracassou. Assim como Fernando Collor em seguida, que tentou recuperar o cruzeiro. A crise começou a dar sinais de término no governo de Itamar Franco, através do Plano Real, do seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. O plano do governo era estabilizar e rebaixar a inflação da época a níveis normais sem medidas drásticas como o congelamento de preços ou o confisco de poupanças do Plano Cruzado. Em seguida, segue detalhados os passos para o sucesso da implementação do Plano Real.

1) Antes de tudo, em 1993, o governo procurou cortar gastos e aumentar a receita do Estado, economizar o dinheiro público através do Fundo Social de Emergência, que seria utilizado para desviar o dinheiro gasto com contas supérfluas;

2) No dia 1º de março de 1994, foi lançada a Unidade Real de Valor (URV), uma nova moeda que seria utilizada apenas para tabelar os preços dos produtos em URVs, de maneira que cada Cr$2750,00 se convertia em  R$1,00. Nesse dia, a cotação do URV estava em Cr$647,50 e foi aumentando a medida que se passavam os dias;

3) No dia 30 de junho de 1994, a cotação atingiu o valor esperado de Cr$2750,00 para no outro dia ser transformado em R$1,00. A primeira inflação registrada com o Real em vigor era de 6,08%, caindo de 815,60% da moeda anterior.

Já como presidente, em 1995, FHC controlou o índice de inflação e reduziu a dívida externa, através de privatizações cortes nos gastos públicos. Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a boa fase da economia internacional e da boa relação com as economias emergentes, como a China e se tornou o segundo presidente reeleito no Brasil, depois de Fernando Henrique Cardoso. Lula manteve os preços estabilizados e eliminou a dívida com o FMI através de um acordo com o banco. O IPCA voltou a medir um aumento no índice de inflação, novamente, no governo Dilma, devido aos gastos públicos, a queda nos investimentos estrangeiros e ao fraco investimento no comércio exterior, assim como o atraso no reajuste na taxa de juros.

Em 2016, depois do golpe constitucional para depor Dilma Roussef, Michel Temer e os seus ministros têm obtido sucesso na luta contra a inflação, devido a recuperada na confiança internacional, nos cortes de gastos e nas políticas macroeconômicas utilizadas para controlar o número de moeda circulando e a taxa de câmbio.

Nota-se que a competência do governo tem muito a ver com o ideal do líder desse. É praticamente insustentável lutar contra a desigualdade ao mesmo tempo em que há o combate a inflação e as taxas de juros, porém não é impossível. Se analisarmos o resultado de anos de lutas no poder de líderes com ideias e valores diferentes, temos hoje em dia a eliminação da hiperinflação e da miséria, num país emergente como o Brasil. É possível, sim, fazer um país onde todos têm seus direitos atendidos (temos exemplos no mundo), só devemos fazer o possível para acabar com os joguinhos de interesses.

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