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Uma teoria para a piada do Português

"Por favor! O senhor viu alguém dobrando esta esquina, agora há pouco? - Não, senhoire. Quando aqui cheguei, ela já estava dobrada..."

Talvez esse tipo de piada seja uma das mais fáceis e populares nas rodas de piada que você já tenha participado. Concordo que, se bem contadas, elas serviriam para alegrar qualquer ambiente ou quebrar o gelo de uma conversa monótona, entretanto pode se tornar pouco bem-vinda numa roda de piada com portugueses a compondo, creio que eles não compreenderiam o motivo da risada.

O que talvez seja curioso é o porquê de elas terem surgido. Mas talvez a teoria mais verídica seja contada desde os tempos em que Portugal deixou de colonizar o Brasil e não ter lucrado um vintém se quer, deixando a Inglaterra se tornar a maior potência mundial da época. Pode-se começar com os fatos em que Portugal provavelmente tenha errado e terminar contando o que o país poderia ter feito diferente para se tornar um país rico. Os episódios possíveis geradores da "Piada do Português" serão contadas entre parênteses no decorrer do texto.

No começo do século XVI, Pedro Álvares Cabral desembarcou em terras que acreditava ser as Índias. Não podemos culpar os primeiros navegadores a chegar em terras brasileiras e ter cometido o erro de pensar que tinham chegado no destino correto. Os europeus não possuíam técnicas de navegação elevadas e tampouco conheciam todas as terras e povos que habitavam a Terra. Afinal, não demorou muito para saberem que estavam em novas terras.

(1) Talvez o primeiro erro tenha sido demorar tanto tempo para colonizar essas novas terras. A primeira expedição com o intuito de colonizar, além de explorar, as terras, aconteceu em 1531. Nesses 30 anos, outros países tiveram a oportunidade de explorar o pau-brasil e isso continuou até o completo domínio português do litoral sul-americano, banhado pelo Oceano Atlântico.

Quando Portugal finalmente resolveu colonizar as suas novas terras, (2) o governo português a entregou para as mãos da iniciativa privada. A divisão da colônia em 15 Capitanias Hereditárias foi a solução que o governo deu para explorar, manter e colonizar o seu território, porém a ideia se tornou um fracasso. Logo nos primeiros anos, o capitães portugueses viram que os custos de exploração, transporte, mão-de-obra e impostos seriam menores que o valor por árvore extraída, gerando pouco lucro e desinteresse pelos donatários.

Vendo a infeliz ideia falhando, a Coroa resolveu instaurar o Governo-Geral, em 1549. Essa demora, somando-se aos pequenos gastos e tempo perdido reprimindo indígenas revoltosos e expelindo outros povos europeus do seu território, resultou numa demora de quase um século de exploração.

E pra piorar, enquanto Portugal se decidia como iria governar a sua colônia e a explorar da melhor maneira, (3) o país foi tomado pelo império espanhol de Felipe II, em 1580, formando a União Ibérica, resultando em mais 60 anos sem usar o total do seu potencial para explorar o Brasil.

Quando D. João IV consegue tomar o poder do seu país de volta para os portugueses, Portugal se encontra arrasado economicamente, suas colônias foram tomadas por portugueses, franceses, holandeses e ingleses. O país já não tem fonte de recursos básicos e matéria-prima, se não o Brasil, para a subsistência da população e para o comércio de outros produtos, então o país europeu toma a pior decisão que poderia fazer na época: (4) pegar um empréstimo gigantesco a juros altíssimos da Inglaterra. A partir do fim da União Ibérica (1640) Portugal se torna dependente economicamente da Inglaterra.

Parte do ouro, depois encontrado por volta de 1693, também é canalizado diretamente para os ingleses, assim como o lucro da extração de cana-de-açúcar, cacau e outros produtos cultivados especificamente para a exportação.

Outros erros por parte de Portugal poderiam ser apontados como (5) a escravização de indígenas e negros, (6) o foco na produção de açúcar e extração de ouro, (7) optar por investir em escravos e não na industrialização da colônia, (8) gastos para combater colonos e colonizados revoltosos e estrangeiros, (9) falta de investimento interno, enfim, três séculos de colonização de um país com potencial enorme para qualquer tipo de cultura resultou no que conhecemos hoje de Portugal, mero figurante da União Européia.

O que Portugal poderia ter feito diferente?

1 - É de conhecimento de todos que as teorias administrativas da época não eram desenvolvidas, porém se sabia que trabalhadores rendem menos se forçados a trabalhar num ambiente desprezível e que as condições de trabalho devem favorecer o bem-estar. Não foi aproveitado o potencial indígena e negro da melhor maneira. Por mais que eles não quisessem, existiam europeus e negros pobres que talvez renderiam muito mais se fossem salariados e tivessem melhores condições de trabalho e vida do que na época;

2 - A indecisão de investir no desenvolvimento (tanto economicamente quanto politicamente) ou não da colônia só causou falta de produção do Brasil que poderia ser muito mais rentável como país parceiro, do que país submetido à Coroa e guerras internas e externas;

3 - A indecisão portuguesa também fez com que Portugal se descuidasse do seu próprio país e o perdesse para a Espanha. Ou você resolve os conflitos do seu país, ou você investe nas novas terras;

4 - Ter somente uma fonte de empréstimos também fez o país colonizador "ser colonizado". Num cenário onde a guerra por territórios predomina, ou você causa o medo e tem vários amigos, ou é dominado pelas potências;

Portugal, nos dias atuais, é um país próspero, com boa educação e qualidade de vida. Talvez seria prepotência portuguesa se queixar de não estar no topo da lista dos países mais ricos, mas a consequência das tomadas de decisão do passado, hoje pode virar uma boa piada numa roda de amigos brasileiros.

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